Empatia: a estratégia da Apple

Poucas pessoas podem dizer que realmente mudaram o mundo para melhor atualmente. Steve Jobs é uma delas. O que o empresário do Vale do Silício fez para a humanidade é algo que estamos até hoje tentando processar e seus impactos são impensáveis. Quem tem um produto da Apple sabe muito bem do que estou falando: a funcionalidade e usabilidade andando, como sempre deveriam ter estado, junto com a forma. Como resultado, nossa vida torna-se mais fácil graças às soluções do velho Jobs e sua equipe. Escrevo este post pouco menos de um mês depois de sua saída da Apple não pelos vários questionamentos que surgem para os acionistas da marca mas porque existe algo muito importante no que tange à abordagem do Design que desmistificaremos daqui para frente com os novos lançamentos da empresa da maçã. O novo LOGOBR não poderia ficar de fora dessa discussão.

Steve Jobs disse que “as pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas.” Concordo plenamente com essa afirmação porém vejo que existe uma má interpretação dessa frase por parte de muitas pessoas, principalmente do mundo do Design. Alguns afirmam que Steve Jobs é um gênio e que a Apple não faz pesquisa com usuários ou testa seus produtos antes de lançá-los no mercado. E é aí que começa a confusão que poderemos desfazer agora que Steve não mais está na empresa …

Um dos elementos básicos do Design é a empatia. Tão fundamental que foi adotada pelo Design Thinking junto com colaboração e experimentação para formar o tripé de ouro da abordagem. Todo bom designer deve ser capaz de se colocar no lugar do usuário e propor soluções que sejam realmente feitas para ele – seja um projeto para algo fácil de criar contexto, como um tênis, ou seja uma peça para a produção de um componente de uma máquina de fabricação de peças de componentes de máquinas (deu pra entender?). Para alcançar um estado empático, nós designers utilizamos uma série de ferramentas que nos permitem entender profundamente para quem se destina o produto ou serviço que estamos projetando e assim sentir o que ele precisa ter e como precisa ser.

O trabalho de um designer se torna um pouco mais complicado quando, como no exemplo que dei da máquina, se colocar no lugar de quem utilizará a solução não é tão simples assim. Imagine, por exemplo, que você quer projetar uma nova forma para diagnosticar pacientes com diabetes. Ou projetar um computador para crianças em comunidades isoladas da África. Para fazer isso você tem que sair de sua zona de conforto e ir até os locais onde os usuários estão, conversar com eles, observar suas rotinas e tentar descobrir quais suas necessidades e desejos. Perceber o que conecta realmente com eles. É claro que essas informações não sairão explícitamente de suas bocas, mas o papel de um bom designer é juntar suficiente informação, estímulos de projeto, para que eles se transformem depois em soluções.

Esse árduo trabalho de entender os usuários é o que muitas pessoas julgam inexistente dentro das paredes da Apple. As pessoas acreditam apenas que Steve Jobs, como por espasmo, define novos objetivos – “vamos produzir agora um telefone!” – e depois corre, sozinho, atrás deles. Pois quero deixar aqui então dois questionamentos importantes antes de continuar:

  1. Não serão as pessoas que trabalham dentro da Apple os próprios usuários extremos que a empresa precisa entender para criar novos produtos?
  2. Com a exposição que a marca tem obtido ultimamente, não estaria cada vez mais fácil para a Apple entender quem são seus usuários, o que eles pensam e como eles estão usando seus produtos?
  3. Não seria o próprio Steve Jobs seu usuário principal, sua persona?

Pois é, acreditar que a Apple fecha os olhos para as pessoas é praticamente um absurdo. Imaginar que tudo que a empresa da maçã faz surge da mente brilhante de Steve Jobs também. É claro que eu não sei o que realmente acontece dentro da ultra-secreta área de desenvolvimento da Apple, mas para mim está claro que para os designers da Apple alcançarem um estado empático com seus usuários nunca foi tão fácil. O brilhantismo da Apple está em usar essa informação e saber criar as melhores ofertas de valor, propostas estas irrecusáveis para muitos e se adaptar rápido às mudanças. Bem rápido! Isso em um mundo como o que vivemos hoje, de constante mudança, é tão fundamental e foi tão bem executado pela Apple nos últimos 10 anos que a empresa se tornou a principal referência no setor de tecnologia do mundo.

A genialidade de Jobs está em acreditar no processo e investir nele, para que os produtos sejam lançados no mercado, um salto de fé que muitos CEO’s não estão dispostos a dar. É fácil continuar fazendo o que já se vem fazendo, Steve Jobs entrou para a história pois assumiu riscos constantes, procurando ir além disso a cada dia de trabalho dele. Longa vida a Jobs!

Na foto: Steve Jobs conversando com Jonathan Ive, designer, vice-presidente e um dos grandes responsáveis pelo sucesso da Apple, mas também não o único.


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Comentários

5 respostas para “Empatia: a estratégia da Apple”

  1. Avatar de Abraão Dantas

    Legal o post Luis. O design só se torna relevante quando contempla alguma necessidade do ser humano e a Apple sabe fazer essa leitura como poucos.

    abs e parabéns a todos do LogoBr, ficou muito legal aqui.

  2. Avatar de gustavo nering

    Interessante ver que a Apple errou um monte antes de acertar de novo. Quantos machintoshs não foram feitos antes do amado Mac G3? E os outro aparelhinhos que foram grandes erros de mercado?

    Faz parte do processo o erro, e tem que ter culhões pra não viver dos erros.

  3. Avatar de Mateus Garcia

    O design é uma ferramenta – importantíssima, mas ainda assim uma ferramenta – que deve fazer parte da estratégia de marca da empresa. E o conhecimento em marketing é fundamental para quem administra marca ou faz design. Um dos mestres do marketing escreveu que o objetivo do marketing é CONHECER tão bem o cliente, mas tão bem, mas tão bem que o esforço de venda se torne supérfluo e que o produto se venda por si só. É isso o que a empresa da maçã faz. Não existe mágica. Eles seguem um dos princípios do marketing, escrito em 1954 e aplicam um design do nosso tempo. Pronto. Eis a fórmula do sucesso!

  4. Avatar de Diego Nunes

    “O brilhantismo da Apple está em usar essa informação e saber criar as melhores ofertas de valor, propostas estas irrecusáveis para muitos e se adaptar rápido às mudanças.”

    Diria mais até… o brilhantismo da Apple está em usar essa informação para ditar as mudanças… mudar o foco do contexto, enfim, inovar.

  5. Avatar de Lucas
    Lucas

    Luis, boa noite.
    Acabei de ler seu artigo e suas palavras serviram de inspiração para mim. Eu sempre gostei de tecnologia, sou formado e trabalho há anos na área. Hoje leciono o curso “Desenvolvedor iOS” e procuro passar todo a mensagem da Apple para meus alunos, assim como você passa neste texto.
    Parabéns pelo trabalho

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