Nokia Pure é uma família tipográfica custom feita para a Nokia sob a direção de Bruno Maag pela Dalton Maag.
Caso não saiba, fonte custom é um fonte adaptada ou desenhada especificamente para um cliente ou projeto específico. No caso da Nokia, essa família vai ser usada em tudo que exige fontes: propaganda, site, embalagem, celulares e onde mais precisar.
A fonte custom pode ser uma solução se você precisa de uma identidade visual única, se no mercado não existir uma fonte como seu cliente precisa ou se seu cliente precisa de muitas licenças de uma mesma fonte.
Um dia falo mais sobre fontes custom, mas por enquanto vamos à Nokia Pure.
Antes, uma picuinha
Vale a pena ao menos dar uma passada numa certa mágoa de Erik Spiekermann, designer da primeira fonte da Nokia, antes de entrar de cabeça na Nokia Pure, da Dalton Maag.
Em 2001/ 2002 o escritório de Spiekermann foi contratado pela Nokia pra fazer uma família de fontes para um fim bem específico: fontes para telas pequenas de baixa qualidade e que tivessem uma identidade e personalidade visual bem forte. Essa fonte seria usada tanto nos celulares como no branding da marca (tem o pdf da primeira apresentação do projeto aqui).
O projeto foi muito bem executado, as fontes da Nokia tinham cara da Nokia, qualquer celular deles tinha cara de Nokia desde os botões até a interface, passando pelas embalagens e fechando com as propagandas. A Nokia tinha uma voz visual muito uniforme e característica. Quando a Dalton Maag anunciou sua nova fonte para Nokia, a Nokia Pure, Spiekermann logo se pronunciou comentando uma possível negação de marca que a Nokia já tinha conquistado. De acordo com ele:
Eles (Nokia) estão jogando fora 10 anos de reconhecimento de marca em favor de algo insoso.
Não sei se você conhece o Spiekermann, ou sua personalidade, mas este é um dos type designers mais bam-bam-bans da atualidade, e uma das razões de sua fama é exatamente esse seu jeito meio falastrão e pouco sútil — não me entenda mal, ele é um ótimo designer e type designer, seus projetos são impecáveis mas —, seu jeito de ser chama muita atenção, suas opiniões ríspidas e diretas, junto com o inconfundível sotaque alemão, se espalham nesse tempo que curte polêmicas no mundo virtual. (Não que Bruno Maag seja lá um cara de pouca personalidade, nesse ponto os dois são bem parecidos, Spiekermann só é muito mais showman, ao menos por enquanto, que Maag.)
Fato é que a Nokia quis mudar e é ela quem paga, então, não importa muito os sentimentos do type designer, eles mudaram a identidade visual e a Dalton Maag foi a escolhida pra executar o projeto, e o executou com maestria. (Concordo com Spiekermann no sentido que seu projeto tinha uma história a ser levada em conta, mas, pelo que Fábio Haag falou numa palestra do DiaTipo Brasília em 2011, a própria Nokia quis deixar essa história pra trás).
Vamos à Nokia Pure
Bem, a Nokia Pure faz parte de todo um pacote, pois a Nokia almeja voltar a ser referência no mundo dos celulares. Muito de vocês que lêem esse texto devem concordar que um dos melhores celulares que tiveram foi um Nokia. Porém, com o crescimento dos smartphones, a Nokia ficou pra trás e não conseguiu inovar ou trazer um aparelho que combatesse com o iPhone ou com a Samsung, perdendo uma grande fatia no mercado que antes ela era campeã.
Uma das pretensões da Nokia em todo esse rebrand é trazer suas características natais pros seus produtos e pra sua marca. Não sei se é senso comum, mas a Nokia é uma empresa finlandesa e o design finlandês carrega uma leveza e austeridade que a Nokia pretende trazer para sua marca. Pureza da forma é o que esse novo tipo deve carregar e, com seu desenho extremante funcional, consegue o resultado pretendido.
A Nokia Pure tem formas que parecem bastante comuns. Isso acontece porque não existe nenhum floreio no desenho das letras e caracteres. A fonte é sem serifa e não tem quase nenhum contraste. Suas formas são bem orgânicas para que, de acordo com a Nokia, as fontes não fiquem com uma cara muito artificial e mecânica. Possui uma altura-x média, que faz com que ela pareça simpática na mancha gráfica. As formas são abertas e carregam uma leve influência da caligrafia trazendo mais humanidade e aconchego pro desenho das fontes.
A família foi primeiro desenhada para tela e depois levada para impressos. Provavelmente é devido a nascer primeiro na tela que as letras possuem formas mais abertas já que a interface de um celular não permite fontes muito grandes e letras muito fechadas como “c” ou “e” podem ser confundidas com “o”, por exemplo. Um erro, feio do meu ponto de vista, é que a letra “l” (éle minúsculo) e “I” (i maiúsculo) possuem desenhos muito parecidos e essa é uma coisa básica na escolha de fontes para interfaces (Fábio Haag, designer brasileiro que trabalha na Dalton Maag, trouxe a informação nos comentários que tinha sido proposto “I” e “L” – i maiúsculo e l minúsculo — que tivessem uma diferenciação maior, mas no processo isso foi descartado sem motivo aparente), ainda mais interfaces que vão se apresentar em tantas línguas como os aparelhos da Nokia.
No alfabeto latino, segundo informações que vieram a público, a Nokia Pure foi desenhada em três pesos: Light, Regular e Bold. Além do alfabeto latino, os produtos da Nokia são vendidos em lugares que utilizam outros alfabetos e para isso estão sendo desenvolvidas fontes diferentes para esses lugares como pode se observar nas imagens abaixo. Pra deixar os brasileiros orgulhosos, o alfabeto georgiano foi desenhado pela brasileiro Fernando Caro.
• Tamil •
• Arábe •
• Hebraico •
• Georgiano, desenhado pelo brasileiro Fernando Caro •
Nokia Pure traz simplicidade e funcionalidade em sua forma e, com isso, consegue mostrar uma nova Nokia que aos poucos apresenta produtos diferentes dos que ela fazia até então. Não que essa fonte vá salvar a Nokia do seu menor desempenho nas vendas, mas com ela, a Nokia consegue passar aos seus clientes a imagem que ela quer vender.
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