Underground Londres: marca, design e manuais

Aloha!

O programa de design corporativo da Underground Group na primeira metade do século XX é até hoje um dos maiores exemplos do que pode acontecer (de bom) quando designers assumem papeis de liderança em corporações publicas e/ou privadas (aliás, esse é um assunto que podemos abordar um dia desses).

Contexto histórico

Se a minha primeira frase não fez muito sentido aconselho que leia esse pequeno resumo histórico antes de baixar os manuais.

Em 1890, foi inaugurado em Londres o primeiro sistema se transporte ferroviário elétrico subterrâneo do mundo. O novo serviço recebeu o nome de Undergorund. Nas primeiras décadas no século XX a Underground Group foi a empresa responsável pela administração de todo o sistema de transportes de Londres, incluindo o tal do metrô.

Entretanto foi Frank Pick, um advogado apaixonado por artes e design, que liderou a Underground Group à vanguarda do uso do design (talvez foi quase um movimento pré-modernista). Por meio de sua liderança, o design foi usado e levado a extremos desconhecidos antes pelas empresas, principalmente públicas. Ele defendeu o design em diversas frentes: logotipos, tipografia, sinalização, publicidade, arquitetura das estações, design de produto (trens e onibus).

As plataformas das estações eram cuidadosamente planejadas para o uso humano e estético. Durante as primeiras quatro décadas de existência do metrô, o patronato de Pick fez uma contribuição positiva ao meio ambiente e se tronou um modelo internacional de responsabilidade do design corporativo.

[Philip B. Meggs, História do Design Gráfico, Ed. Cosacnaify]

Pick trabalhava como advogado e estatístico para a Underground Group. Mas sua constante insatisfação e crítica com a forma como a empresa se comunicava com o público o fez receber a responsabilidade de cuidar da publicidade da empresa por volta de 1908. Assim que assumiu passou a fazer mudanças.

Além de organizar a confusão de cartazes de anunciantes com posters informativos sobre os transportes, Pick implementou novas placas nas estações do metrô (1908), que tinham um disco vermelho uniforme atravessado ao meio por uma barra azul que trazia o nome das estações em letras brancas sem serifa. Um símbolo chamado pelos britânicos de roundel. Essa ideia simples e inteligente ajudava os passageiros a identificarem o nome da estação em meio aos posters de publicidade e informativos.

• Fotografia: coleção do London Transport Museum •

• Fotografia: Jeremai Smith

Alguns anos depois, insatisfeito com a tipografia usada nos impressos do metrô, Pick contratou o calígrafo Edward Johnston para projetar uma fonte exclusiva, que foi patenteada em 1916. A Railway de Johnston era uma tipografia sólida, extremamente geométrica. O livro História do Design Gráfico dá um belo panorama do trabalho de Johnston:

Edward Johnston buscou a clareza funcional absoluta mediante a redução de seus caracteres à forma mais simples possível: o ‘M’ é um quadrado perfeito cujos traços em diagonais de 45 graus se encontram no centro exato da letra; o ‘O’ é um círculo perfeito; todas as letra têm um desenho elementar semelhante. A caixa-baixa do ‘L’ tem uma cauda para evitar confusão com o ‘I’ caixa-alta. Essas letras elementares foram protótipos para o design reducionista.

• Fotografia: livro História do Design Gráfico, Ed. Cosacnaify •

Após o desenho da fonte exclusiva Johnston continuou a trabalhar para Pick. Ele projetou uma nova versão da sinalização e dos logos das estações, usando sua nova fonte em cima da barra azul. Mas ele alterou algo: trocou o disco por um círculo. Mal sabia Johnston que havia criado os dois maiores símbolos do design gráfico britânico: a tipografia Railway (que inspirou Eric Gill a projetar a famosa Gill Sans, usada nos cartazes “Keep Calm” durante a II Guerra) e o roundel.

Aliás temos uma ótima imagem: o desenho das proporções do novo logo feito por Johnston. Um guideline para guiar a reprodução e aplicação do novo logo.

• Fotografia: Curry15

• Fotografia: coleção do London Transport Museum •

• 1920 •

No início da década de 1970 a consultoria Design Research Unit, do designer Misha Black, foi contratada para repensar e redesenhar toda a identidade visual dos transportes londrinos, incluindo logotipos e tipografias. Então em 1972, o roundel foi relançado na forma como o conhecemos hoje. Um verdadeiro ícone pop britânico.

• Fotografia: E04 •

Em 1984 foi criada a LTR, London Transporter Regional, para administrar os sistemas de metrô e de onibus. Em 1987 a consultoria Wolff Olins for contratada para criar uma versão do roundel para cara uma das subsidiárias da LTR, buscando trazer uma comunicação única para a LTR e seus serviços.

• Fotografia: coleção do London Transport Museum •

Em 2000, foi criada a TfL, Transport for London, que substituiu a LTR. De cara, ela recebeu a tutela sobre os sistemas de onibus, taxis, ‘linhas’ do rio Tamisa, trens, placas de transito, alugueis de bicicleta e outros pontos de transporte da cidade. Em 2003 a coroa: o sistema de metrôs foi anexado ao TfL. A decisão de continuar a usar o roundel como principal simbolo de todos os sistemas foi imediata. Para isso, fora criados versões distintas para cada um dos sistemas, apenas alterando a cor da barra. Cada um dos sistemas ganhou sua própria identidade visual. Todos os logos “não-roundel” foram eliminados nesse processo de redesign da identidade.

Os manuais

Dei esse panorama histórico para entendermos como o famoso logo se transformou num complexo sistema de identidade de todos os tipos de transporte de Londres.

A TfL disponibiliza em seu site todos os manuais para cada uma das marcas. Tem manuais específicos para cores, para sinalização, pintura das estações, papelarias, projetos editoriais, CDs e DVDs, pintura de trens e onibus, uniformes, molduras para cartazes, desenho de placas e fachadas, ícones, design para máquinas de tickets e muito mais. Já vi muitos manuais de aplicação de marca, mas nada que se compare a abrangência desses. Clique na imagem abaixo e divirta-se com esse tesouro!

ps: se você gostou do post nos ajude a divulgar 🙂


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