O fim da publicidade

Imagine por um momento que o titulo deste texto é verdade. Que no ano de 2013 o governo aprove uma lei que impossibilite a criação de toda e qualquer mensagem de interrupção. Em outras palavras, que nada, e muito menos alguma marca, possa interromper ou interferir em nossas atividades. Não mais comerciais enquanto vemos um filme na televisão, anúncios enquanto lemos um artigo na internet ou banners em espaços públicos.

Em Janeiro de 2007, o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, decidiu banir das ruas outdoors que contaminavam visualmente a cidade com seu projeto ‘Cidade Limpa’. Decisão brilhante, nos deu olhos para enxergar pela primeira vez prédios, museus e parques que estavam por trás dos grandes paineis. E o que aconteceria se eliminássemos completamente toda outra forma de divulgação? Será que teríamos mesmo uma vida mais simples, bonita, fluida e livre de distrações ou nos encontraríamos em uma situação de desespero e falta de referência?

Quem mora em São Paulo já se acostumou a ver os prédios e não banners e outdoors …

Imagino que em um primeiro momento todo um sistema de empresas cairia. Modelos de negócio e setores inteiros seriam obrigados a se reinventarem, procurar novas alternativas para permanecer relevantes ou vender seus serviços. Consumidores, por outro lado, teriam que buscar as informações por si só sobre quais empresas estão disponíveis para suprir suas necessidades utilizando guias de empresas, sites especializados e círculos de pessoas conhecidas. O fator determinante para a escolha de um fornecedor tornaria-se, oficialmente, não mais o que as empresas bombardeiam nas mídias, mas como elas são em realidade.

Claro que todo um setor que trabalha com mensagens publicitárias não ficaria parado e logo surgiriam novas alternativas para colocar as marcas na cabeça dos consumidores sem que sejam consideradas interrupções. Fronteiras nebulosas como a aparição de produtos e serviços dentro do conteúdo principal, como inserções de merchandising em novelas se tornaria mais comum e caberia aos criadores desse conteúdo se vender ou proteger seu conteúdo. Seria um grande dilema. Mas como sustentar a operação? Como um jornal ou uma emissora de televisão sobreviveria dentro dessa nova realidade? Talvez cobrando pelo conteúdo, como deveria ter sido sempre …

Enquanto isso, publicitários trabalhando em novas formas de aparecer, criariam o conceito de patrocínio de “pessoas normais”, identificando influenciadores em determinados segmentos e os entulhando de dinheiro e marcas, fazendo que estes espalhem a mensagem. Até que muitos se afastem deles ou vejam que já não se divertem tanto em sua presença. E novas proibições para inibirem esse tipo de ação surgiriam, impedindo o patrocínio empresa-pessoa.

Poster do filme ‘Amor por Contrato’ (The Joneses) onde Demi Moore e David Duchovny lideram uma família de mentira, criada apenas para influenciar seus círculos de convivência para que comprem produtos.

Restaria então às empresas um só caminho: ter um bom produto ou serviço, de verdade, e atender bem os seus clientes. Pois estes, mesmo sem serem pagos, serão os responsáveis por espalhar a mensagem. Ao invés de gastar milhões para fazer promessas, agora o foco será a experiência. Chega de falar, está na hora de fazer.

Agora saiba que essa realidade, mesmo sem uma lei, pouco a pouco se tornará real. As pessoas não vão mais acreditar no que as marcas falam delas mesmo e as empresas que forem inteligentes vão cada vez mais concentrar seus investimentos na criação e sustentação de uma operação que encante e seja fiel com seus clientes atuais, pois saberão que, cada vez mais, estes serão seus maiores agentes de venda.

Claro que essa é só uma hipótese, o início de um raciocínio. E vocês, o que acham que poderia acontecer caso a publicidade fosse banida?


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