Aloha!
Há 6 semanas o mundo da tipografia mundial foi abalado por uma fonte que de credencia a ser a Helvetica Killer. Estamos falando da Aktiv Grotesk, último lançamento da foundry Dalton Maag. A DaMa chamou um de seus designers, o brasileiro Fábio Haag, para a dificultosa tarefa. Fábio aceitou o convite do LOGOBR para falar sobre a Aktiv e seu processo de criação, que está intrisicamente ligado as suas pretenções.
LOGOBR – Você poderia, primeiramente, nos explicar o que é um fonte grotesk?
FÁBIO HAAG – As fontes ditas ‘grotescas’ pertencem a um dos primeiros estilos de tipografias sem serifas difundidos em larga escala. O termo ‘grotesco’ foi utilizado pela primeira vez em 1832, por William Thorowgood, da Fann Street Foundry; embora letras sem serifas já existissem previamente e na história antiga já em 500 a.C. Imagine que você vive em um período onde a grande maioria das tipografias são serifadas. Ao se deparar com uma com as serifas removidas, o termo ‘grotesco’ como adjetivo começa a fazer sentido.
Apesar de sua origem distante, o estilo popularizou-se de fato nos últimos 50 anos, com designers e usuários finais as escolhendo por sua neutralidade, estilo contemporâneo, utilitário e sério. Além disso, essa neutralidade permite a sua aplicação em uma variedade de contextos e mídias. Algumas das sem serifas grotescas mais populares são a Helvetica, Arial e Univers.
De onde surgiu a idéia de começar um projeto de uma grotesk?
O briefing veio do nosso Diretor de Criação Bruno Maag. Há anos ele critica o uso indiscriminado da Helvetica por designers que a utilizam para toda e qualquer ocasião, sem refletir a respeito. Além disso, uma alternativa às fontes grotescas famosas seria muito bem vinda em nossa biblioteca de fontes exclusivas – não tínhamos nada neste sentido.
O briefing resumia-se em projetar uma tipografia sem serifas grotesca com uma visão contemporânea, repensando detalhes e inovando onde fosse possível, porém, sem jamais perder de vista a funcionalidade e o tom de voz de tipografias como a Helvetica e a Arial.
Designers que utilizam a Helvetica para tudo precisam dar-se conta de que, utilizar a Helvetica hoje não é a mesma coisa do que foi utilizar a Helvetica nas décadas de 60, 70 e 80, quando ela se popularizou. Naquela época, várias identidades visuais eram modernizadas apenas tendo seus nomes escritos em Helvetica; era o que bastava para revitalizarem suas identidades visuais. A da American Airlines, por exemplo, criada em 1967 por Massimo Vignelli, continua assim. Mas é preciso perceber que o espírito modernista e de contemporaneidade que tornou essa tipografia um sucesso naquela época não funciona hoje. Para a nossa Aktiv Grotesk, era preciso repensar o estilo grotesco, com olhos atuais, para manter o mesmo impacto que consagrou este estilo 50 anos atrás. O pesquisador Rafael Cardoso me disse, certa vez, que ‘é preciso mudar para permanecer igual’, neste caso, podemos concluir que as grotescas não causam o mesmo impacto no mundo de hoje porque o mundo mudou; elas por sua vez precisam mudar, para permanecerem iguais, com o mesmo propósito o qual vieram ao mundo.
Com este pensamento, criamos uma tipografia de estilo grotesco com olhos no presente. Existem inúmeras outras interpretações do estilo. Outro acréscimo muito recente foi a Founders Grotesk do talentoso Kris Sowersby (de quem o LOGOBR postou o sketchbook aqui)– esta interpretação, por sua vez, é mais fiel à história do estilo e tem um clima mais ‘retro’ e industrial, eu diria. São diferentes abordagens a um mesmo tema.
A Akitv Grotesk é sua obra-prima? (O Fábio já lançou outros tipos, como a Foco, que está sendo usado no redesign do LOGOBR.)
De certa forma, acredito que sim. Ela foi projetada por mim, com consultoria do Diretor de Criação Bruno Maag e do Designer Sênior Ron Carpenter. Tivemos discussões exaustivas sobre cada detalhe, ponderamos e testamos inúmeras abordagens para determinados caracteres e sempre testamos a nossa Aktiv Grotesk comparando-a com as grotescas famosas, até que a nossa interpretação deste estilo fosse superior, na nossa opinião pessoal, em vários aspectos. O nível de refinamento minucioso que foi aplicado na Aktiv Grotesk é gigantesco. Além disso, foi um desafio criar algo novo com tantas restrições – não podíamos perder de vista o tom de voz da Helvetica e da Arial. Ao comparar a Aktiv com a Helvetica, Arial e Univers, após 6 meses de trabalho quase ininterrupto dedicados à Aktiv Grotesk, estou muito satisfeito com o resultado.
Porque comprar a Akitv Grotesk?
O tom de voz neutro do estilo da Aktiv Grotesk, com um toque de contemporaneidade, pode ser utilizado em uma série de aplicações, tornando-a uma tipografia extremamente útil.
Compare a Aktiv Grotesk com as demais grotescas de seu acervo e verá que ela é uma interpretação moderna e de alta qualidade de um estilo cuja popularidade já foi testada pelo tempo.
Ali em cima você comenta que o Maag disse para “repensar detalhes e inovar onde fosse possível”. Como se constroi uma fonte inovadora? Vc poderia nos mostrar onde a Akitv Grotesk inova em relação as demais?
Acredito que a palavra ‘inovação’ no typedesign tenha um sentido muito mais sutil do que em qualquer outra área do design. Gerard Unger sabiamente nos adverte, ‘a tipografia evolui ao passo do leitor mais conservador’. Nesse sentido, na Aktiv Grotesk não tentamos reinventar o conceito das grotescas, e sim, executar este mesmo conceito com um olhar atual. “Repensar os detalhes” é exatamente isso. Foi muito mais um trabalho de execução primorosa do que de inovação conceitual. No conjunto, chegamos a um resultado novo, que de maneira geral é algo familiar e ao mesmo tempo inédito em seus detalhes íntimos. Observe, por exemplo, que na Aktiv Grotesk, a letra ‘a’ não possui uma terminação em curva na sua base direita, como existe, por exemplo na Helvetica. Concluímos que aquele elemento tem uma origem muito antiga, em contradição com o espírito contemporâneo pretendido nesta tipografia. Adrian Frutiger já sabia disso quando projetou sua Univers, e adotou uma leve curva na haste vertical, como também Robin Nicholas, aliás, na sua Arial. Na nossa Aktiv Grotesk, levamos este princípio ao extremo e removemos este detalhe completamente. Algumas pessoas irão argumentar que esta abordagem na letra ‘a’ reduz legibilidade; e é verdade, em teoria. No entanto, comparando a Aktiv Grotesk inclusive em tamanhos pequenos de textos verificamos que aquela terminação é desnecessária, e que o impacto visual de um acabamento limpo torna a tipografia muito mais jovem.
Agora a pergunta que alguém já deve ter feito: o que toda essa inovação trás de novo para os trabalhos dos designers/estudio/agências, visualmente falando? Essa modernidade no estilo grotesco é perceptível a quem?
Qualquer profissional com um olhar levianamente apurado para tipografia pode perceber isso. Ao analisar a imagem abaixo, por exemplo, verificamos que as letras da Aktiv Grotesk, à esquerda, nos parecem muito mais contemporâneas do que as seguintes, Helvetica e Arial. Embora isso envolva muito a opinião pessoal e sentimentos que podem variar de pessoa para pessoa, claro.
Como tem sido a recepção da Aktiv Grotesk pelo mercado, após 6 semanas de lançamento?
É muito interessante avaliar isso. A Aktiv Grotesk está dividindo a comunidade internacional de designers. Há quem a odeie e há quem a ame. No blog da revista Creative Review há uma discussão acalorada recheada inclusive de insultos pessoais ao Bruno Maag. E acreditem, nós estamos adorando tudo isso. É importante verificar na prática a força do lado emocional quando o assunto é tipografia, não apenas nós que vivemos disso todos os dias. E apesar destas duras críticas, posso lhes dizer oficialmente: a Aktiv Grotesk é a nossa fonte que mais vendeu em tão pouco tempo de vida. Um verdadeiro sucesso comercial.
Agradeço ao Fábio pela gentileza em nos dar essa entrevista. Esse já é parceiraço nosso. 🙂
Teste aqui a Aktiv Grotesk. O que achou? O espaço para perguntas está mais que aberto, o Haag está doido pra abrir uma super discussão aqui sobre Aktiv, Helvetica, Univers, Arial, grotesks, compra de fontes, typedesign…
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